quarta-feira, 29 de abril de 2009

Escrevo dentro da noite - J.G. de Araújo Jorge

Quem é este homem que eu ainda não conhecia? José Guilherme de Araújo Jorge (1914-1987), poeta cuja obra lírica, por vezes dramática, exala um romantisno moderno de extremo gosto bom. O "Poeta do Povo e da Mocidade" tem voz de mim. E de você?

Escrevo dentro da noite

Estou escrevendo para não gritar. Para não acordar
os que dormem felizes lado a lado,
os que repousam, aconchegados,
os que se encontram e continuam juntos
e não precisam sonhar
porque não dizem adeus...

Estou escrevendo para não gritar. Para enfunar o coração
[ao largo.
E as palavras escorrem salgadas como um córrego de
[águas mortas
num silencioso pranto.
Tão perto, e nem percebes minha insônia. Nem ouves
[a confidência.
que põe nódoas no papel para não ter que acordar-te
e se transmuda em palavras, que são estátuas de sal.

Estou escrevendo para não gritar. Para não ter tempo
[de acompanhar a noite,
para não perceber que estou só, irremediavelmente só,
e que te trago comigo
sem outra alternativa que o pensamento
- cela em que me debato a olhar a lua entre grades.

Estou escrevendo para não gritar. Para não perturbar
[os que se amam
se juntam, e se estreitam, e sussurram na sombra
e passeiam ao luar,

para que as palavras chovam num dilúvio, silenciosamente,
e me alaguem, e me afoguem, e me deixem pela noite a dentro
como um corpo sem vida e sem alma,
a flutuar...

3 comentários:

Rafael Sperling disse...

Legal, é um belo poema!!
Bjs

Anônimo disse...

realmente um belo poema...mas não de sua autoria.

Fernanda Fernandes Fontes disse...

Acho que deixei claro no cabeçalho, não?! Se vc se refere ao texto do perfil, é pq quando fiz o blog, eu só tinha o Degustação Literária, que só tem textos de minha autoria. Mas obrigada por mencionar, vou mudar o texto para que não haja outros enganos.