terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Bijuteria: uma sentença de vida

Foto retirada do site NRAviamentos

Não sei se aquelas bijuterias que eu fazia quando pequena eram uma sentença de futuro, um feitiço da vida ou apenas o início do meu destino final! Sei que me arrependo amargamente por ter pedido à minha mãe para comprar umas miçangas na Galeria do Ouvidor (fato). Tê-las - me parece hoje - foi como abrir uma Caixa de Pandora. Eu estava predestinada! Biblioteca Pública, Maleta, Mercado Central, Santa Teresa, A Obra... histórias seriam vivenciadas em cada um desses locais. 

- Por que não pedi um Lego do Pátio Savassi? - pergunto sempre que procuro emprego!

Depois de receber os pacotinhos com pedrinhas coloridas, cordões, fechos, bases e cola, não teve mais jeito. Foi como se o sol do Teletubbies tivesse se aberto para mim. Seria Comunicação Social, Psicologia, Letras, Filosofia ou qualquer outro curso com remuneração "combatível com o mercado" e de difícil explicação para a família.

- Relações Públicas? É tipo Jornalismo? Ou é aquele povo que faz festa? 

- Letras? Professor não ganha dinheiro! Mas tem duas férias no ano!

- Vai trabalhar com o quê fazendo Filosofia? Vai acabar bebendo demais!

- Psicologia? Você vai é ficar doida!

Mas não teve jeito! Todo teste vocacional era Humanas como alvo certo! E até hoje, depois de formada, para onde corro, estou com as letras, com os pensamentos filosóficos e com alguma arte manual em processo de fabricação. Mas sempre, sempre, sempre... estou sem dinheiro! Humanas. Como um grito de guerra (oh luta!), de socorro (o freela não caiu) ou uma declaração de amor ("penso, logo existo" <3 font="">

- Exatas: porque te apartastes de mim? 

E toda vez que vem o  arrependimento de não ter feito Kumon para melhorar a Matemática, o questionamento de por quê ter pedido a compra de materiais para as bijuterias, e a vontade de construir pontes ao invés de relacionamentos, pergunto-me: pra quê simplificar a vida com números, fatos irrefutáveis e com intervenções milimetricamente calculadas? 

A resposta vem de uma canção que ouço com frequência: "eu gosto é do estrago"! Sou pobre sim, reclamona, questionadora e mestre pela luta do reconhecimento das "Humanas" como um bom status social, com uma boa remuneração financeira, e pela glorificação familiar.

- Você fez Artes Plásticas? UAU!

- Meu filho é formado em Geografia!  - peito estufado e lágrimas de orgulho.

- Salário para um Antropólogo qualificado é de R$ 7 mil reais. Mas não se preocupe, esse é só pelo período de experiência.

No fundo, no fundo, eu sou feliz com a "Humanas" que há dentro de mim. Mas vamos melhorar esse olhar, neh minha gente?! Reconhecimento verbal não é suficiente!